domingo, 16 de dezembro de 2012


O nosso encontro de Natal, foi de uma ternura tal, que me faz ter a certeza, que a leitura é realmente um grande prazer... e assim houve uma fantástica e intensa partilha de ideias, interpretações,  ainda a propósito do livro A Vida é Breve de Jostein Gaarder e já acalentadas pelos mimos gastronómicos  e imbuídas pela quadra natalícia, lemos o conto de Natal A Estrela,de Manuel Alegre, por isso : 
Desejo-vos um Feliz Natal, repleto de alegria e muito carinho!
E deixo-vos esta estrelinha, símbolo de sorte e de muita esperança num 2013 próspero e feliz
E anexo o conto (com supressões da parte final) : A estrela
A minha avó Margarida
Todos os anos, pelo Natal, eu ia a Belém. A viagem começava em Dezembro, no princípio das férias. Primeiro pela colheita do musgo, nos recantos mais húmidos do jardim. Cortava-se como um bolo, era bom sentir as grandes fatias despegarem-se da areia, dos muros ou dos troncos das árvores velhas, principalmente da ameixieira. Enchia-se a canastra devagar, enquanto a avó ia montando o que se chamaria hoje as estruturas, ou mesmo infraestruturas, junto da parede da sala de jantar que dava para o jardim. Eram caixotes, caixas de chapéus e de sapatos viradas do avesso, tábuas, que pouco a pouco ela ia cobrindo de musgo, ao mesmo tempo que fazia carreiros e caminhos com areia e areão. Mais tarde os rios e os lagos, com bocados de espelhos antigos, de vidros ou mesmo de travessas cheias de água. Até que todos os caixotes, caixas e tábuas desapareciam. Ficavam montanhas, planícies, rios, lagos. Era uma nova criação do mundo. Aqui e ali uma casinha ou um pastor com suas cabras. E todos os caminhos iam para Belém.
Não era como o presépio da Igreja que estava sempre todo pronto, mesmo antes de o Menino nascer. A cabana, a vaca, o burro, os três reis do Oriente. Maria, José, Jesus deitado nas palhinhas. Via-se logo que era a fingir. Não o da avó, que era mais do que um presépio, era uma peregrinação, uma jornada mágica ou, se quiserem, um milagre. Nós estávamos ali e não estávamos ali. De repente era a Judeia, passeávamos nas margens do Tiberíades, andávamos pelo Velho Testamento, João Baptista baptizava nas águas do Jordão e aquele monte, ao longe, podia ser o Sinai ou talvez o último lugar de onde Moisés, sem lá entrar, viu finalmente a terra onde corria o leite e o mel. Mas agora era o Novo Testamento. A avó ia buscar as figuras ao sótão, eram bonecos de barro comprados nas feiras, alguns mais antigos, de porcelana inglesa, como aquele caçador que a avó colocava à frente dizendo: Este é o pai. Seguia-se a mãe, de vestido comprido, dir-se-ia que ia para o baile, mas não, saía de cima de uma mesinha da sala de visitas e agora estava ao lado do pai, olhando levemente para trás onde, entretanto, a avó já tinha colocado figuras mais toscas, eu, a minha irmã, os primos, alguns amigos, todos a caminho de Belém.
- E a avó?, perguntava eu.
- Eu já estou velha para essas andanças.
De dia para dia mudávamos de lugar. E todas as manhãs deparávamos com novas casas, mais rebanhos, pastores, gente que descia das serras, atravessava os rios e os lagos. Os caminhos ficavam cada vez mais cheios. E todos iam para Belém. À noite tremulavam luzes. Acendiam e apagavam. Mas ainda não se via a cabana, nem Maria, nem José.
Então uma noite, entre as estrelas do céu, aparecia uma que brilhava mais que todas.
- Esta é a estrela, dizia a avó.
E era uma estrela que nos guiava. Na manhã seguinte lá estavam eles, os três reis do Oriente, Magos, explicava o pai, que também não dizia Pai Natal, dizia S. Nicolau, talvez por influência de uma misse de origem russa que em pequeno lhe falava de renas e trenós e de S. Nicolau atravessando as estepes.
Cheirava a musgo na sala de jantar. Cheirava a musgo e a lenha molhada que secava em frente do fogão. E os Magos lá vinham, a pé, de burro, de camelo. Traziam o oiro, o incenso, a mirra. Às vezes nós, os mais pequenos, juntávamo-nos e cantávamos: “Os três reis do Oriente / Já chegaram a Belém.”
- Não chegaram nada, atalhava a avó, ainda não.
Estávamos cada vez mais perto. E também nervosos. Confesso que às vezes fazia batota. Empurrava-nos um pouco mais para a frente, para mais perto de Belém e do lugar onde eu sabia que mais tarde ou mais cedo a avó ia pôr a cabana. Mas ela descobria.
- Não lucras nada com isso, podes apressar toda a gente, não podes apressar o tempo.
Cada vez havia mais luzes na Judeia. Por vezes surgiam novos lagos, eram mistérios da minha avó. E a estrela lá estava, a grande estrela de prata que brilhava mais do que todas as outras, às vezes eu ia à janela e via a projecção daquela estrela, ficava confuso, já não sabia se era a estrela da sala ou uma estrela do céu, era uma estrela nova, uma estrela de prata, era uma estrela que nos guiava. No céu, na sala, na Judeia, talvez dentro de nós.
Até que chegava o primeiro dos grandes momentos solenes. A avó chamava-nos ao sótão (nós dizíamos forro), abria uma velha arca e desempacotava a cabana. Depois, muito comovida, quase sempre com lágrimas nos olhos, as figuras de Maria e José.
- Não há nada tão antigo nesta casa, já eram dos avós dos meus avós.
Impressionava-me sobretudo o manto muito azul de Maria e o rosto magro, quase assustado, de José. A avó limpava-os com muito cuidado e mandava-nos sair. Nunca nos deixou ver o resto.
À noite, quando regressávamos da missa do galo, a que a avó não ia, chegávamos a casa e finalmente estávamos em Belém.
A estrela brilhava intensamente sobre a cabana, Maria e José debruçavam-se sobre o berço, onde Jesus, todo rosado, deitado nas palhinhas, agitava os braços e as pernas, envolvido pelo bafo quente dos animais, enquanto os três reis do Oriente, agora sim, chegavam a Belém para depositar aos pés do Menino o oiro, o incenso, a mirra. E vinham os pastores, e vinha o pai, de caçador, a mãe, de vestido de baile, e vínhamos nós, eu, a minha irmã, os primos, não éramos de porcelana nem de barro, estávamos ali em carne e osso, era noite de Natal, uma estrela nos guiava, brilhava sobre a Judeia e sobre o presépio, brilhava cá fora entre as estrelas, brilhava dentro de nós.
Naquela noite, naquele momento, nós não estávamos na sala de jantar em frente do presépio, tínhamos chegado finalmente a Belém para adorar o Menino ao lado de Maria e José e dos três reis do Oriente, Magos, não conseguia deixar de corrigir o meu pai. Mas mágica, verdadeiramente mágica era a avó. Era ela que fazia o milagre da transfiguração, trazia o Natal para dentro de casa e levava-nos a todos até Belém. O cheiro a musgo e a lenha. Os montes, os vales, os rios, os lagos. Caminhos e caminhos que iam para Belém. E a estrela de prata, a estrela que nos guiava. Era uma estrela no céu, dentro de casa, dentro de nós. Pela mão da avó ela brilhava. Pela sua magia Belém estava dentro de casa. E a casa também ia até Belém.
 

domingo, 28 de outubro de 2012

Para o próximo encontro, a 24 de novembro, a proposta de leitura é do autor Jostein Gaarder, A Vida é Breve.
(nasceu em Oslo a 8 de Agosto de 1952. Formou-se em Filosofia, tendo lecionado durante alguns anos as disciplinas de História das Ideias e História das Religiões no Ensino Secundário. A partir de 1993, depois do grande sucesso de O Mundo de Sofia dedica-se totalmente à atividade literária e diz inspirar-se nas reações dos seus dois filhos ao mundo que os rodeia, para a criação de muitos dos seus livros. Atribui, todavia, o segredo do seu sucesso ao facto de preencher uma das necessidades fundamentais de qualquer ser humano - a de que lhe contem histórias.)

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

E o sorriso, as gargalhadas, as partilhas, a amizade...perpetuam-se nas doces e muitas recordações! Em homenagem à minha querida Margarida Simão, hoje as margaridas  foram ao seu encontro! E assim, continuará em cada maré, a renovar-se a lembrança da sua força, alegria e amizade!
Até sempre!

domingo, 13 de maio de 2012


Próximo encontro no Parque da Paz
14 de junho de 2012 às 10:00

Livro à escolha de cada leitor e momento de piquenique.

sexta-feira, 4 de maio de 2012


Caríssimos leitores lançamos novo desafio de leitura para o próximo encontro de maio!
O Mandarim de Eça de Queirós.
Até dia 12 de maio pelas 15horas na Biblioteca José Saramago.
Boas leituras!

quarta-feira, 11 de abril de 2012

 No dia 11 de abril, como havíamos previsto, tivemos o Intercâmbio do Clube de Leitura da Usalma com a Turma L EFA B3 da Escola Cacilhas-Tejo.
  O encontro ocorreu nas Instalações desta escola, sendo a professora Domitila Cardoso(à esquerda na primeira foto) a nossa anfitriã e mediadora desta turma e a professora Diana Ferreira (à direita)  a dinamizadora, deste e dos vários encontros do Clube de Leitura.
E assim, tendo como mote a leitura da Obra A Pérola de John Steinbeck reunimo-nos, focando temas como :
Valores familiares: Música, canoa que transita de geração.
Paterfamilias: pai manda, família obedece.
Avareza: do médico que só atendia quem tivesse dinheiro;
Felicidade: Ter ou não ter a pérola. 
Lemos excertos em voz alta, comentámos, trocámos experiências de leitura e, por fim, fomos acalentados com as quadras do Luís Aragão, inspiradas pela leitura da obra, intituladas "Pérolas grandes jamais".
A todos agradecemos a presença e a participação!


Vejam também: A notícia no blogue da turma: http://efacacilhastejo.blogspot.pt/

E na página dos cursos EFA: http://efaescacilhastejo.webnode.pt/

terça-feira, 10 de abril de 2012

   Amanhã, dia 11 de abril pelas 19:30 teremos o Intercâmbio entre o Clube de Leitura da Usalma e a Turma L (EFA) da Escola Secundária Cacilhas-Tejo.
  A Obra escolhida foi A Pérola (The Pearl) de John Steinbeck, numa versão gratuita online.
  Baseada num conto popular mexicano, esta obra, constitui uma inesquecível parábola poética sobre as grandezas e as misérias do mundo tão contraditório em que vivemos.